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Marradas, cornadas, coices e algumas lambidelas

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

Simplesmente complicado

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"O vazio que se lixe. Inaumentável inminorável impiorável sempre insuperável quase vazio."*

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Descubro que passei horas infindáveis da minha vida a dar a volta à cabeça para resolver problemas que, ou não se resolveram, ou se resolveram sozinhos sem que as minhas reflexões tivessem tido alguma influência.

A vida é dura (que cliché bonito...), por isso não vale a pena tentar amolecê-la se vamos ficar todos pisadinhos.

Para quê complicar ainda mais com a desculpa de que se estão a tentar resolver as complicações...

Perda de energia.

Não ao simplex da vida.

Ir na crista da onda.

Acho que devemos aprender a conduzir ao ESSES, em vez de gastar o tempo a construir uma autoestrada, que quando estiver pronta, já não nos leva onde queremos ir...

Todos queremos a fórmula da felicidade, sem percebermos que todos somos felizes. Pelo menos um bocadinho por dia, todos os dias. Não há dias inteiramente trágicos. Há sempre aquele momento de prazer, nem que seja o segundo em que adormecemos ou o instante de puro êxtase em que o analgésico para as dores começa a fazer efeito...

Claro que também não há dias inteiramente felizes. A questão passa por se escolher o que vamos valorizar.

Tive um Mestre (bem ao seu estilo quase-zen de Guru da auto-ajuda-teatral) que me ensinou que há receitas para resolver problemas. Na maioria das vezes até bem simples, mas que normalmente não duram mais do que uns dias. Ao fim de uma semana estamos enjoados, encalhados, ou pior, entediados.

Infinitamente mais interessante do que procurar soluções é levantar novas e melhores questões. Em vez de se taparem buracos, abrem-se outros ao lado.

Agora evito perder tempo e queimar a moleirinha a tentar desfazer os nós cegos do juízo. Qual gata-borralheira prendada, aproveito-os para fazer naperons de crochet!

Até porque se eles são mesmo cegos, a única solução lógica seria arranjar-lhes uma bengala e um cão.

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Resumindo (e depois de uma noite em claro miserável, a correr para o médico, a ter de chamar o irmão para arrombar a fechadura de casa para poder entrar depois de chegar do médico, e de me sentir cheia de pena de mim, por ter de ser eu a fazer o meu próprio chazinho e por ter de ir trabalhar mesmo doente e sem energia): no meu dia-a-dia angustio-me imenso, enervo-me, stresso, não tenho paciência, exagero, irrito-me, zango-me, sofro, engulo sapos, enfastio-me, chateio-me, falo demais, não digo o que devia, arrependo-me, mudo de ideias, contradigo-me, canso-me...

...mas sou FELIZ.

Sou saudável (na maior parte dos dias), gosto muito do meu trabalho (apesar de ser muuuito) que me dá dinheiro para ser auto-suficiente e fazer muita coisa de que gosto, sou independente, sou razoavelmente inteligente, tenho uma família grande, formidável, complicada e divertida, que adoro (e um irmão multifunções com quem posso sempre contar - desde que não seja de manhã - capaz de arrombar portas, ir à farmácia, mudar faróis no carro ou resolver complexos problemas informáticos), tenho um grande número de amigos, conheço e tenho o privilégio de privar com gente extraordinária, e, mais importante do que tudo, colecciono pelo menos uma mão cheia de pessoas que tenho a mais absoluta certeza que me dariam um Rim ou um Par-de-estalos, sem pestanejar, conforme a ocasião, e por quem eu incondicionalmente roubaria um banco ou ficaria fechada numa cabine telefónica com uma dezenas de freaks piolhentos e mal-cheirosos.

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"Tudo desde sempre. Nunca outra coisa. Nunca ter tentado. Nunca ter falhado. Não importa. Tentar outra vez. Falhar outra vez. Falhar melhor."*

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*Samuel Beckett in Pioravante Marche, Últimos Trabalhos

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2 comentários:

Anónimo disse...

Quer dizer eu dou um rim e tu só entras numa cabine com Freaks?
J.

Anónimo disse...

Pensar em falhar outra vez mm k seja p falhar melhor é f****!